de tanguinha...
- Hoje acordei com saudades suas...
- A sério?
- Muito a sério.
- É por isso que ainda não tenho aqui o meu tabuleiro do café com torradas, biscoitos e sumo?
- Não...
- Não? Mas não vejo aqui nada...
- Isso é porque o pequeno-almoço hoje é diferente.
- Sim? Como?
- É surpresa.
- Hum... Gosto de surpresas. Estou à espera...
- Deixe-me pôr-lhe isto primeiro.
- Uma venda? Não sei se acho boa ideia...
- Tem de confiar em mim. Sim ou não?
- Bem... Sim!
- Óptimo. Agora vou ajudá-la, está bem? Não quero que vá contra os móveis. Apoie-se em mim.
- Para onde me leva?
- Não seja impaciente. Disse-me que confiava em mim.
- Pois foi.
- Pronto, já cá estamos.
- Posso tirar a venda?
- Não, não. Hoje está a ter uma experiência sensorial sem usar os olhos. Com eles vendados vai ter de sentir ainda mais tudo o que se passa à sua volta. Quer continuar?
- Claro, amor. Mas... o que me está a fazer?
- Estou a despi-la, querida. Não é novidade para si, mas hoje está a ser diferente, não é?
- Hum... Muito agradável. Pode continuar...
- Agora descontraia-se.
- Estou muito descontraída.
- Óptimo.
- O que é isso?
- Óleo perfumado. Gosta?
- Sabe bem, assim espalhado pelas suas mãos... Já lhe disse que tem umas mãos óptimas?
- Sim, amor. São só para seu uso exclusivo.
- É sempre bom ouvir isso, querida. Continue que estou a adorar...
- Não se preocupe. Temos o dia todo e eu ainda agora comecei.
- Ainda está com saudades minhas?
- Isso é um estado que não me passa, amor.
- Tenho reparado nisso.
- Só precisamos de nos lembrar todos os dias disso, para não nos distrairmos e não perdemos a noção do quanto gostamos.
- Concordo, amor. A menina nunca mo deixa esquecer.
- Dou o meu melhor e sinto que faz o mesmo.
- Mima-me demais... E agora, que me vai fazer?
- Chegue-se para aqui. Vou ajudá-la a levantar a perna, assim. Baixe agora.
- Hum... Banho quente... Hum...
- Ajudo-a a sentar-se. Não quero que escorregue.
- Está bom, amor. Ai que delícia... Não se junta a mim?
- Claro amor. É já. Só falta uma coisinha... Volto já e não quero que tire a venda.
- Prometido é devido, não se preocupe.
- Já está. Foi rápido, como vê.
- Pois foi. Entre, ande.
- Pronto. Dê-me a sua mão.
- O que é isto? Café? Que cheirinho...
- Tem o tabuleiro à sua frente, por isso, tenha cuidado. Vou-lhe passando tudo, não se preocupe.
- Que maravilha... Pequeno-almoço na água, servido por si. O que é isto?
- Um scone com manteiga. Que tal lhe parece?
- Delicioso.
- Experimente misturar com isto.
- Morango? Hum... Que delícia, amor.
- Ainda bem que gosta.
- Melhor, só a menina, é um facto.
- Mima-me com esses elogios todos.
- E a menina com estas surpresas maravilhosas.
- Quer um bocadinho de sumo?
- Quero tudo a que tenho direito. E ainda mais uma coisinha.
- Diga. Hoje é o dia das suas vontades.
- Ai é? Posso pedir, então?
- Pode. Estou por sua conta.
- Óptimo. Quer ser a minha sobremesa?
- Ai...