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Tangas Lésbicas

lésbicas de tanga na tanga - em busca do seu passo doble perfeito - desfiando as linhas que cosem as tangas - que nos devolvem envolvem - pingas que tingem a linha da tanga - todas as tangas são iguais - mas estas são as melhores - tangas lésbicas

Tangas Lésbicas

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kultura lésbika

 

- Olhe lá… Afinal há ou não há uma cultura lésbica?
- Cultura quê? O que é que a menina andou a tomar para se pôr com essas modernices?
- Vá lá, dê-me uma resposta séria, para variar. Que mania essa a sua de fugir às perguntas com repentes de humor de qualidade duvidosa…
- Está bem, eu digo-lhe se há ou não há cultura lésbica. Mas posso saber o que motivou a sua pergunta?
- Claro que pode. Lembra-se da Mariazinha, aquela minha amiga toda para o intelectual?
- Lembro-me, claro. A dos óculos de massa e borbulhas na cara.
- Não seja irritante. Já sei que, quando não gosta delas, óculos de massa e borbulhas servem tão bem como insultos.
- Adiante, então.
- A Mariazinha contou-me que sondou o editor dela a propósito de um romance lésbico que escreveu.
- A sério? Ela escreveu um desses? Que giro. Continue.
- Veja lá que o homem se virou para ela e lhe disse que não há romances lésbicos. Apenas romances de temática lésbica.
- E ela, que respondeu?
- A Mariazinha? Nada. Ficou a matutar no assunto e agora a questão dela é: se não há romances lésbicos, haverá cultura lésbica? E se não existe cultura lésbica, haverá realmente lésbicas?
- Parece uma questão como a do sexo dos anjos.
- Pois parece. Por isso estava a perguntar a sua opinião.
- Hum… Se há lésbicas, o natural é que haja uma cultura lésbica, mesmo que muito pálida.
- Concordo.
- No entanto, se não há romances lésbicos, mas apenas romances de temática lésbica, é bem provável que não haja mulheres lésbicas, mas apenas mulheres com tendência para a temática lésbica…
- Como assim?
- Bem, se o editor da Mariazinha tem razão e essa coisa dos romances lésbicos não existir, não será que as lésbicas devem ficar muito bem encaixadas na categoria das mulheres e só depois serem consideradas na subcategoria das lésbicas? Isto para não abalar as grandes categorias estabelecidas, claro. Afinal, somos todas mulheres, não acha? Para quê complicar as coisas? A seguir ainda tinham de reclassificar os sexos, as uniões de facto, as categorias familiares, os parentescos e por aí adiante, com a trabalheira que dá mexer nas pensões, nas reformas, no direito sucessório, nas heranças, nos direitos de paternidade – ou maternidade…
- Isso quer dizer que o editor da Mariazinha quer manter-nos nas grandes categorias e por vontade dele, oficialmente, não deixamos de ser apenas mulheres?
- A menina hoje está clarividente…
- Está bem visto. E então? Há ou não há cultura lésbica?
- Na minha humilde opinião, há sim. Já lhe contei a história da Rita Mae Brown?
- Não. Quem é?
- Uma escritora norte-americana que escreveu o Rubyfruit Jungle, um best-seller e um dos romances lésbicos mais lidos em todo o mundo. A páginas tantas, ela queixou-se de que o facto de os romances dela ficarem confinados às prateleiras de romances lésbicos era uma forma de discriminação.
- A sério? Então porquê?
- Porque, dessa forma, só as lésbicas ou pessoas interessadas na dita «temática lésbica» é que teriam acesso às obras delas. Como escritora, ela achava que tinha direito ao mesmo tratamento que os outros autores, isto é, às prateleiras de destaques das livrarias. Ou o leitor comum e menos informado jamais teria oportunidade de conhecer a obra dela através das formas mais tradicionais de divulgação dos romances que viram best-sellers.
- E tinha razão!
- Pois tinha, mas também está a dar razão ao editor da Mariazinha.
- Mas nós sabemos que, se calhar, as razões do editor da Mariazinha são contra nós e não a favor…
- Brilhante, minha querida amiga!
- Então… em que ficamos?
- Por mim, contrariamos o editor da Mariazinha porque sabemos que, lá no fundo, ele não quer é que existam escritoras lésbicas, porque isso seria reconhecer que há lésbicas, literatura lésbica e cultura lésbica. E partir daí para a reclassificação social em geral seria um grandessíssimo aborrecimento.
- Lá isso…
- Por outro lado, também temos de dar razão à Rita Mae Brown, porque sabemos que não conceder o mesmo tratamento a um romance lésbico que se dá a todos os outros é uma grave forma de discriminação. Não acha?
- Acho. Mas também acho que isso se vira um bocadinho contra nós.
- E eu acho que a menina se engana, porque isso seria verdade se vivêssemos num mundo a preto e branco, de bom e mau apenas. Mas sabemos que não é assim, não é verdade? Que entre uma cor e outra ficam as outras todas, todas as variações de bom e mau que existem, todas as tais categorias que até agora ficaram por considerar e nos remetem para os grandes grupos socialmente aceites.
- Eu acho que a menina tem razão. Mas olhe que não é fácil defender a cultura lésbica e o escaparate dos destaques para os romances lésbicos também.
- Deixe-me facilitar-lhe a tarefa: quando está comigo sente-se apenas uma mulher ou também uma mulher lésbica?
- Mulher, sim, mas também uma lésbica. Definitivamente uma mulher lésbica.
- Logo, as mulheres lésbicas existem, não apenas como mulheres, mas também como lésbicas, certo?
- Certo.
- Quando lê um romance lésbico, acha que ele é apenas mais um romance, ou apetece-lhe chamar-lhe romance lésbico?
- Romance lésbico soa-me muito melhor.
- Muito bem. Como diz o ditado, onde há fumo, há fogo. Aqui há lésbico, além de romance. Agora, deixa por isso de achar que é um romance? E com qualidade? Literatura?
- Não.
- Então suponho que podemos dizer que há romances definitivamente lésbicos que são literatura e que, por isso, se podem encaixar numa categoria chamada literatura lésbica. Estou certa?
- Dito assim, parece-me muito certo.
- Então por que não falar de mulheres lésbicas, romances lésbicos, literatura lésbica e cultura lésbica? Como categorias definidas, não apenas como subcategorias, claro.
- Também me parece muito bem.
- Ora aí tem a resposta à sua pergunta. Agora, se não se importa, chegue-se para cá para fazermos um bocadinho de jus ao romantismo lésbico.
- Se é uma conversão, devo avisá-la que sou uma adepta de longa data…
- Longa data e longa duração, espero…

queremos gémeos!

 

- A menina já viu a notícia?

- Qual notícia?

- A da Melissa Etheridge e da Tammy Lynn Michaels?

- Não. O que diz?

- Tiveram gémeos, o Miller Steven e a Johnnie Rose.

- Não me diga...

- É verdade. Está tudo aqui, preto no branco.

- Quem diria que iríamos assistir a coisas destas...

- Admira-se? Olhe que a mim estas coisas enternecem-me.

- Enternecem-na como?

- Já pensou que podíamos ser nós?

- Deve estar a brincar comigo...

- Não estou não. Já pensou se tivéssemos um menino e uma menina?

- Mas se não temos nem cães para podermos fazer férias em paz nos sítios que nos agradam, o que é que íamos fazer com dois (não um) filhos?

- Essa parte das férias é delicada, concordo. Não é bem como deixar a Russinha no canil e depois ir buscá-la com uma caixa de biscoitos e uma trela nova. Isso é verdade.

- Então deixe-se de fantasias e pense mas é no que nos vai custar o próximo destino exótico.

- Mas já imaginou a cara da dona Agustinha, a vizinha do terceiro andar, quando nos visse passar de carrinhos de bebé, fraldas e biberões?

- Quero lá bem saber da dona Augustina do terceiro andar. Nesse caso queria ver era se a sua mãe ficava com os gémeos e se o seu pai ia passear com eles para o parque para os exibir aos amigos e explicar que eram seus e da prima que vive consigo há dez anos.

- A minha mãe era capaz de ficar contrariada, lá isso era. E o meu pai não descansava enquanto não soubesse quem teria sido o fulaninho responsável pelo 'acidente'. Mas as crianças arranjam sempre uma forma de conquistar os avós, essa é que essa.

- Deixe-se de fantasias que isso são coisas de artistas. Todas as extravagâncias lhes são perdoadas. Sobretudo se forem americanos, claro.

- Porquê? Acha que os artistas portugueses não seriam acolhidos da mesma maneira?

- Olhe que dúvida a sua... Os artistas aqui morrem de fome, menina. Quem é que lhes ia permitir essas coisas?

- Não sei... Já pensou no impacte que teria se a porta-voz de um casal de lésbicas famosas fosse à TVI anunciar o nascimento do Diogo e da Mariana, com 2,780 quilos cada um e de perfeita saúde?

- Já agora, não se importa de me dizer quem seriam as lésbicas famosas que participariam em mais esse 'reality show' da TVI?

- Um casal glamoroso? Sei lá... A Mariza e a Alexandra Lencastre, por exemplo.

- Nem em sonhos, minha querida, nem em sonhos! Olha quem...

- Olha quem?! Então não faziam um lindo par de lésbicas e mães de dois gémeos por inseminação artificial ali na vizinha Espanha?

- Nem pensar, menina. Você delira. A mulher portuguesa está lá preparada para dizer que foi inseminada, quanto mais juntar-lhe uma relação lésbica e uma corrida dos paparazzi aos bancos de esperma para descobrirem os possíveis dadores...

- A menina subestima a mulher portuguesa, lésbica e orgulhosa descendente da padeira de Aljubarrota e de lusitana raça.

- Deixe-se de coisas. Mulheres e portuguesas é uma coisa, lésbicas e descendentes de uma butch padeira suada e com mais força do que é delicado admitir-se numa mulher é outra completamente diferente. E lusitanos são os cavalos, mais nada!

- A menina tem um dedo para os chavões, pronto! Mas diga lá se um par de gémeos não assentava que nem uma luva à Mariza e à Alexandra...

- Isto não é a América, rica. Aqui nunca seriam os filhos da Mariza e da Alexandra, mas os filhos das fufas. Ainda por cima sem pais.... Já imaginou o desassossego na altura de preencher a papelada da creche, da escola, do bilhete de identidade?

- Pronto! É por isso que não saímos da cepa torta. Ainda não lhe ocorreu nem um argumento positivo ou minimamente sério sobre o assunto...

- Positivo e sério? Mais do que tenho dito? Se ainda não reparou, estou aqui a tentar evitar uma calamidade social. Mariza! Alexandra! Não tenham gémeos, por favor! Pensem nos abonos de família que vos vão recusar. Na assistência à família que já nem às heteros é reconhecida. Nos olhares das outras mães nas festas da escola. Nas explicações que vão ter de dar às pobres crianças. No assédio da comunicação social...

- Pronto, cale-se lá com isso. Até parece o advento do Apocalipse.

- Já que fala nisso, acabo de me lembrar daquele Joãozinho das Neves que escreve aquela iluminada coluna no DN...

- Vamos mas é treinar a pensar nos gémeos que a menina não se cala de outra forma.

- Ah, o derradeiro e verdadeiro argumento... Xeque à rainha!

 

Já a caminho do terceiro


Hoje o Tangas Lésbicas completa dois anos de actividade. E porque aqui se foram construindo ideias e temas com a ajuda de muitas pessoas, pedi a algumas que escrevessem qualquer coisa para juntar aqui.
Aqui ficam algumas das palavras enviadas a propósito:

Eu gosto do Tangas!

Mais que do Tangas, só mesmo  da inexcedível Manchinha!

Beijos pilantras da

- Samartaime  (Abracadabra)

 

Este blogue é qualquer coisa de fantástico.

Não é a só a pertinência dos temas abordados, é sobretudo a graça natural e o talento espantoso da bloguista-mor, de quem sou amiga há muitos anos.

Sem nenhum favor entendo que todo ele, textos e postais, devia ser publicado em livro.

Eu não me importo de tratar da edição, em troca de nada.

Alguém tem uma sugestão, no que toca a uma forma eficaz de se conseguirem uns patacos para pagar a tipografia?

Com dois mil euros já se faziam 500 exemplares para distribuir por todas. Se quiserem só com os textos fica por muito menos.
Beijos a todas.


- Pipi do fio dental

 

 

    Jamais poderia esquecer o modo intenso como me olhaste... como te aproximaste quando ainda nem ainda havia troca de palavras. Perante ti... e o teu silêncio pesado sentia-me como uma presa perante o seu caçador delicado e atencioso. Soubeste gerir os teus passos aveludados que te trouxeram até mim, as tuas palavras mornas que me cativaram e os olhares longos em que me sentia navegar. Soubeste camuflar a tua dita inexperiência num campo que nem nomear desejavas. Os teus gestos envolviam-me numa segurança terna e consistente. A tua prontidão para a vida que se desenhava à tua frente era como a brisa que o mar te trazia nos dias em que te permitias ser... comigo. E à tua frente, via-te ser num futuro próximo quando dos teus lábios saíam palavras meigas de um amor que jamais voltarias a sentir... por uma mulher. Porque tudo era diferente. Porque tudo tinha um outro sentido. E ouvia-te falar sem saber e conhecer os esboços dessa diferença que te afastava de mim...

   Hoje... nem me pergunto que terás tu sentido. Sorrio apenas... e admito que foi talvez uma das melhores tangas que me pregaram... que me fizeram muito feliz e infeliz ao mesmo tempo... daquelas que só acontecem mesmo... a lésbicas.

- M. (My Precious Thing)

 

Queria muito dizer qualquer coisa - algumas palavras, algumas linhas, quiçá um parágrafo inteirinho, mas fico-me por um incentivo: força, humor é o aroma mais delicioso para abordar qualquer tema, que a vida é só uma passagem!... :) E Muuuuuuuuuuuitos Parabéns!... :)

- Sotavento (Meia_Praia)


 

" (…) Duas da manhã na segunda maior cidade de Portugal, não consegue dormir… Há duas noites que sonha duas vezes com aquelas duas pessoas tão importantes na sua vida. Levantou-se e foi até ao espelho, estavam com olheiras e cabelo desalinhado, mas a inércia não permitiu que os dois braços se movessem. Emitiu dois gritinhos abafados (não fosse o Diabo tece-las e acordar os dois vizinhos de cima), foi beber dois golos de água, dirigiu-se à janela e abriu as duas portadas, respirou fundo e ficou a observar as duas árvores do jardim que dançavam ao som do vento. Não conseguiu afastar aqueles dois sentimentos tão fortes que lhe fazem tremer até as duas mãos. (…)

- Estou, estou?!?!?!? Sim….sim….???? Não, não! Tchau! Tchau!

Ficou a pensar: " Mesmo com dupla probabilidade de acertar, o telefone só nos traz vozes estranhas…". Olhou para o relógio, faltavam dois minutos para as duas, mais duas horas para os dois cafés que combinou com aquelas duas pessoas tão importantes. Tem de optar, mas não sabe viver sem as duas… (…)"

Porque o número dois é um número muito especial….

Um Abraço

Ps – Este excerto pode ser usado para fins maliciosos com a promessa de comparência do nome do autor… o meu portanto!!!!! :)

- Acid Pig (Ready To Act)


Este é, para mim, um blog de referência, pela irreverência, pela acuidade e
atrevimento dos temas tratados e, fundamentalmente, pela forma como são
(re)tratados! Sempre com um humor único!

Muitos e muitos Parabéns!

E que venham, sempre e melhores Tangas!

Com ou sem tanga ... (isto já se sabe! ...)

Chocolover (2tons)



(Hoje este post vai ser actualizado várias vezes, por isso, voltem.)


- Mas que coisa, menina...
- O que foi agora?
- Tem algum jeito isso de festejar os anos do blogue?
- Claro que tem. Não foi para isso que se inventaram os aniversários?
- Mas tinha de ser o aniversário de um blogue lésbico?
- Não tinha, tem razão. Mas já que era o dia deste, aproveitou-se a oportunidade.
- Vê-se mesmo que não tem nada melhor para festejar.
- Por acaso até tinha, mas foi o mês passado.
- O quê?
- O nosso aniversário. Mas como não lhe escrevi nenhum post a lembrá-la, a menina fez o favor de o esquecer.
- Foi por isso que gastou aquele disparate nos ramos de flores que espalhou pela casa toda?
- Foi por isso mesmo.
- Então, para a próxima, em vez de gastar o seu rico dinheirinho em disparates desses, leve-me a jantar fora, que eu gosto mais. Andei a espirrar todo o dia à conta do seu 'jardim interior'.
- Também a levei a jantar fora.
- Levou? Ai foi por isso que fomos à marisqueira?
- Foi, foi.
- Na altura também me ocorreu que podia ter uma razão especial para isso, mas nem me passou pela cabeça.
- Há muita coisa que não lhe passa pela cabeça.
- O que eu espero é que não lhe passe a si pela cabeça ir à marisqueira com as suas amigas bloguistas.
- Por que não? Não me diga que agora deu em ter ciúmes...
- Que ciúmes? É só porque hoje quero levá-la eu...

Mãos pra que te quero...

Your sexual hidden talent is your ability to use your hands.  You are damn good with them, and know how to make your lover feel incredibly sexy with just one caress.



(Quiz sugerido pela Mente e cumprido com todo o rigor aqui.)

 E agora, amiga? Mãos para que te quero?

- Mau Maria...
- E o que foi agora?
- Não me diga que não sabe mesmo o que fazer com as mãozinhas?
- Eu só digo o que me apetece, não o que apetece a uns e a outros?
- Então eu sou 'uns e outros'?
- Eu não disse isso...
- Então é a menina que não sabe que raio me fazer com as mãos?
- Olhe, já que trouxe o assunto à baila, por que não me dá umas explicações sobre a matéria? Só até eu me dar por satisfeita...

Ele há mais 'Ls' no mundo, gente!


- Vão passar outra vez o 'L-Word'?!?...
- Veja lá a menina. É para que saiba.
- Os mesmos episódios?
- Os mesmíssimos. Os que já vimos várias vezes na Fox e na 2.
- Tem a certeza?
- Ó menina! Se lhe estou a dizer...
- Olhe, se eu achava graça à série, agora começo a odiá-la.
- Tem ali os comprimidos para o enjoo, no armário da casa de banho, se quiser.
- O que eu quero é saber se a 2 tem alguém com quem se possa falar para os impedir de enjoar a comunidade lésbica inteira.
- Lá está a menina com as suas coisas... O que é que isso ia adiantar? Mesmo que houvesse e pondo a hipótese de a menina chegar até essa pessoa, o que é que isso ia alterar?
- Dizia-lhe que já enjoa, pronto. Que se fizéssemos parte de outros quaisquer dez por cento minoritários, já tinham encomendado uma nova série.
- Ora, ora... A menina bem sabe que, nessas alturas, nos embrulham em simpatia e discursos politicamente correctos e nos mandam para casa coser meias ou lá o que for preciso para terem a certeza de que não saímos do nosso canto.
- Isso das meias não sei. Nunca soube. Mas que a gente tem de se mexer, lá isso tem. Aqui sentadas é que não nos cai nada no colo.
- E o que é que a menina quer que lhe caia no colo? A cabeleireira da 'L-Word'?
- Não diga disparates, que isto é um assunto sério. Acho que se pode falar de discriminação selectiva neste caso.
- Discriminação o quê?!?
- Selectiva. Seleccionaram o 'L-Word' para nos enjoar até ao desespero.
- Tipo mensagem subliminar de cabeleireiras a dar uma de carismáticas?
- Começo a desconfiar que a menina tem alguma coisa contra as cabeleireiras...
- Eu?!? Pelo amor da Santa!
- Não foi a menina que andou com uma cabeleireira há um século e meio?
- Foi há vinte anos e escusa de fazer insinuações torpes sobre outra idade que não a sua.
- Vinte ou cem, qual é a diferença? Não era nessa altura que havia imensas cabeleireiras lésbicas?
- Era quase uma espécie de moda, lá isso era.
- Então é isso! Não está a ver?
- O quê? O quê?
- Estão a tentar associar-nos à classe das cabeleireiras. É isso! Mais um estigma para a comunidade. Era o que nos faltava!
- O que nos faltava era a menina a inventar mais estigmas e associações imbecis do que já existem.
- Não está a ver que é uma conspiração subtil, uma manipulação insidiosa através de uma série que é, supostamente, o último grito da afirmação positiva do lesbianismo pós-moderno?
- Hã?!?
- É o que ouviu. Vou já escrever um email de alerta e enviá-lo a todas as associações de género portuguesas. Acha que deva incluir as espanholas?
- Acho que a louça está na máquina há dois dias à espera que lhe dê uma inspiração dessas para a arrancar do sofá e do poder hipnótico da televisão.
- O problema não é a televisão sabe?
- Não?
- Não. É mais o sofá. Sente-se lá aqui para eu lhe explicar melhor, com palavras doces ao ouvido...